REAL IRMANDADE DO SENHOR BOM JESUS DA CRUZ É RESPONSÁVEL POR FAZER OS TAPETES EM FLORES

“Este ano iremos homenagear Aires Marques”

 

Pedro Ferreira, provedor da Real Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz, revelou quais serão os temas deste ano dos tapetes da Festa das Cruzes.

O propósito da Irmandade

Após o milagre das cruzes em 1504, existem relatos de que em 1509 já existiria a Real Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz. Hoje a irmandade é constituída por 15 elementos, divididos entre três órgãos sociais: a assembleia geral, o conselho geral e a mesa administrativa. Somos eleitos a cada quatro anos e só podemos fazer três mandatos seguidos. O primeiro objetivo é promover a devoção ao Senhor da Cruz e o segundo é zelar pelo património e bens materiais que fazem parte do espólio da Real Irmandade.

O templo, como é um monumento de interesse nacional, mas, não propriedade do Estado, é sim propriedade da irmandade. Assim, cabe a Irmandade zelar, quer do ponto de vista de recolha de esmolas, quer dos investimentos que têm de ser feitos.

Ao longo dos últimos 20 anos, esses dinheiros têm sido utilizados para restaurar o património, como o interior do templo, por exemplo.

A Festa das Cruzes

É uma festa da cidade, a primeira romaria do Minho. Para a irmandade “é naturalmente muito importante. A Festa das Cruzes, tem origem no milagre das cruzes e tem um simbolismo maior a 03 de maio, que é o dia do feriado municipal. A organização da Festa das Cruzes hoje é constituída por três entidades”. A paróquia é responsável pela organização da procissão. O trabalho começa muito antes. Tem a ver com os tapetes no templo e a missa que são duas eucaristias. Os tapetes começam a ser delineados no mês de novembro.

Os tapetes deste ano

Até 2019 faziam-se dois tapetes, um em frente ao altar do Senhor da Cruz e outro em frente ao altar da Nossa Senhora das Dores e os temas eram sempre de puro cariz religioso. Ou seja, não havia qualquer alusão social ou evento que aconteça naquele ano.

Em 2021, para criar zonas de passagem, em que as pessoas quando entrassem no templo, pudessem entrar por uma porta e sair por outra, criou-se um só tapete. Mas, as pessoas disseram que ficavam a faltar os outros dois nos respetivos altares. “E como é o nosso dever ouvir as pessoas, passamos a fazer três tapetes”, afirmou o Provedor, esclarecendo: os temas pretendemos que sejam algo da atualidade da igreja, mas, que não sejam apenas imagens litúrgicas e religiosas. Este ano iremos homenagear Aires Marques com uma adaptação de um tapete que ele terá feito nos anos 50. Um tapete que achamos muito bonito e com uma complexidade fora do vulgar. Tal tem a ver com o tipo de pétalas que são utilizadas e o próprio enredo que é feito com as mesmas. O envelhecimento das pétalas é algo muito importante também, uma vez que podem alterar as cores do tapete. Por isso mesmo é que em janeiro já começamos a testar o envelhecimento das pétalas a utilizar”.

É interessante de ver que o grupo de trabalho que já vem há anos tem um gosto muito grande pelo que fazem. São pessoas que deixam os seus trabalhos durante 5 dias e é uma tarefa muito exigente. É de enaltecer as senhoras que retiram as pétalas das flores, que é um trabalho muito minucioso e leva muitas horas.

De onde vêm as flores utilizadas nos tapetes

No passado eram flores do campo, nos últimos anos isso deixou de se poder fazer totalmente por duas razões. O Provedor Pedro Ferreira esclarece: “Dou um exemplo, em 2021 houve uma praga no bucho e não conseguimos ter este arbusto e nessa altura tivemos que adaptar para folhas de oliveira. Depois os chorões, desapareceram quase na totalidade que usávamos bastante. Ainda continuamos a usar as camélias. Hoje em dia calculo que compremos cerca de 60% a 70% das flores. O restante ainda vem dos campos. Existem pessoas que cobram, outras que não, mas faz tudo parte da dinâmica. O encargo financeiro é muito grande. O ano passado gastamos cerca de 11 mil euros”.

O Provedor da Irmandade afirme que “nós não temos subsídios públicos, mas a câmara municipal colabora connosco em alguns projetos como foi o caso do restauro da capela de S. Francisco e S. Cristóvão”.

Anjos Costa